Eu tenho a certeza da forma como gosto de ti. E isso aconteceu quando eu um dia imaginei a tua ausência. Percebi que quando sentirmos que se está a perder qualquer coisa, mesmo que seja uma coisa muito pequena causada pela vida ou pelas rotinas, do mundo que hoje temos, temos que nos reinventar para nunca nos perdemos. É sobre alguém preferir um "vamos" em vez de um "vai". É sobre alguém ser capaz de estender a mão para nos ajudar a acabar com uma pedra no nosso caminho. E o sentimento não passa, se nenhum de nós dois tomar o outro por certo, não passa. Sendo eu tão incompleta, cada dia que passa tornas-me mais completa. Só quero continuar os nossos dias. Só quero continuar a riscar os nossos planos cumpridos e traçar novos. Lembrar-me dos nossos bons momentos e planear outros melhores. É um sentimento crescente, uma grande vontade de continuar a viver dias bons. Quanto mais coisas boas nós pensarmos para nós dois, mais longe ficaremos das ruins. Por isso, quero esbarrar no teu abraço incansavelmente, assim como na primeira vez, para permanecer dentro do tudo que tu me dás. O amor é só uma embalagem bonita do presente que a vida nos dá.
Tu ias ficar e soubeste desde o começo. Esse presente sem me conhecer veio repleto de futuros significados e histórias, feitos ao sabor do sentimento ou seleccionados ao som do coração, que não poderiam ter sido pensados por uma pessoa que queria sair da minha vida já amanhã. Pessoas que desejam ficar para sempre marcam-nos com a sua simplicidade, presenteiam-nos com a sua humildade e tocam-nos com a sua alma. Toda a intensidade tem um preço e o nosso é uma dívida bem grande de quilómetros pulverizados de saudade. Saudade cruel que nos revoga e ao mesmo tempo mantém-nos vivos. Sem percebermos abre-se a porta que nos dá a possibilidade de renascermos. Vem de dentro. Chega de forma tímida, quase sem espaço, sufocado, mas feliz. Quando sai, já vem com um sorriso. Esteja feliz ou triste, vem com todos os dentes para fora, como se fosse uma pequena gargalhada. E ri. Ri por estar perto de quem está. Por mais que demore, uma hora deixa tudo leve, calmo e no seu devido lugar. Depois, ele retorna, para dentro de quem sente. Para dentro de quem quer sentir. O amor. E foi assim que começaste a entrar em mim.
Catarina Gonçalves
Quero que entendas que enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão continuaremos a buscar-nos noutras metades. Para viver a dois antes é necessário sermos um. Podes te achar novo(a), mas a vida é curta de mais para nos acharmos novos ou velhos para o que quer que seja. Estamos cá de passagem e não sabemos quando o “bilhete” acaba, mas amanhã há a possibilidade de haver um dia novo. Percebes a grandiosidade disto? E tu queres continuar preso(a) ao passado? Um dia acaba os amanhãs e tu ficaste parado e preso(a) ao passado, porque foste magoado(a), foste pisado(a), bla bla bla. Ficas à espera do que? E só isso que pensas? E que importa para ti? Uma memória mal apagada é uma memória eternizada. Se queres apagar o que te dói, se passas pelos dias a querer apagar o que te dói, o máximo que vais conseguir é nunca apagares o que te dói. Amanhã vais acordar e tens a possibilidade de tudo outra vez. Podes sentir o mesmo e vais sentir o mesmo, e podes ainda sentir mais. Ainda mais, já viste bem? Mais coisas novas. Mais coisas pela primeira vez. Existe quem te deu a mão sempre que precisaste. Dão-te a possibilidade de voltares a sentir mais. Ninguém perde por dar amor, perde é quem não sabe receber. Um dos maiores erros que podes cometer é arruinar o presente, recordando o passado que já não tem futuro. Deixares que o medo do passado e a incerteza do futuro estraguem a beleza do presente. A vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar e humilde o bastante para aprender. É loucura deitar fora todas as oportunidades de ser feliz porque uma tentativa não deu certo. A vida é curta. Perdoa rapidamente, ama verdadeiramente, ri incontrolavelmente e nunca te arrependas de nada que te faça sorrir. O teu passado nunca define o teu futuro. Tens que abrir os teus olhos sem fechar teu coração. A morte não é a maior perda da vida, a maior perda da vida é o que perdemos dentro de nós enquanto vivemos. A amar o próximo ficas agonizado de felicidade. Encontras-te contigo ao centro de ti. Ir ao centro de nós exige uma flexibilidade mental e psicológica que só alguns conseguem ter. Não é impossível voltar a sentir o amor. Se tens alguém que te dê força para isso agarra-a. Deixa sentir cada momento. O mal, muitas vezes, é querer substituir uma pessoa por outra logo de seguida, enquanto o “lugar” ainda esta quente. E ficamos sem saber o que sentimos. Muitas vezes desprezamos quem mais nos ama, para amar quem mais nos despreza. Nada que vale a pena e fácil. E quando pensas em desistir, lembra-te dos motivos que te fizeram aguentar até agora. Tens que aprender a viver sem as pessoas que vivem bem sem ti. Aprender que quando as pessoas gostam mesmo de ti, elas não voltam, elas ficam. E cada qual sabe amar a seu modo. O modo, pouco importa, o essencial é que saiba amar. O que importa na vida, não é o que és, é o que podes ser. Não é o que tens ou sentes, é o que podes sentir. Se neste momento te sentes bem o que te preenche é isto. Este exacto isto, que sentes agora, mas o que te pode preencher ainda mais é o aquilo. O aquilo que não sentes, mas que tu acreditas que podes sentir. Somos mais o que acreditamos que podemos ser do que aquilo que efectivamente, e realmente, somos. Depende de ti.
Catarina Gonçalves
Todo o amor começa no impossível.
Fechou o computador (manteve-se
aberto, mas quem quis saber dele?), desligou o telemóvel (continuou ligado, mas
quem quis saber dele?) e dedicou-se a imaginá-lo nos sonhos. Foi mesmo assim:
vê-lo falar nos sonhos. Olhá-lo ser. Ela sabia que fazia mal em ir, assim, sem
saber porquê e farta de saber porquê. Mas um ano depois lá foi reencontrar-se
com ele. Sem intenções. A medo. Ela não acreditava no amor e ainda assim ali
estava, naquele festival em que duas almas aprenderam que havia amar para
sempre.
Todo o amor é feito de aprendizagens.
Quando ela o viu, nada mais à
volta continuou a andar. Pelo menos dentro dela. Passaram o festival (os cinco dias
mais bonitos que um festival algum dia ofereceu a alguém) a falar sobre absolutamente
nada, e a sentirem absolutamente tudo. Passaram o festival a amar-se sem que
alguém o pudesse notar. Não houve toque (apenas um abraço, sorrateiro, na
chegada à procura de descobrir o que escondeu o interior dele durante um ano),
mas os dois corpos sentiram-se mais agarrados, revolvidos, amassados e
alvoroçados de uma intensidade avassaladora mais do que nunca.
Todo o amor precisa de pele para tocar.
Ela tinha medo de estar a ficar
para sempre, ali, por dentro dos olhos dele. Tinha medo de voltar a sofrer por amar
alguém, que simplesmente não entende que quem ama não magoa. Mas como poderia ela
voltar à simples vida depois de ter reaprendido a viver com ele? Ela só olhava
para ele todo (o cabelo escuro dele, o sorriso puro dele, a timidez irresistível
dele) e sabia que o máximo que lhe restava, agora, era deixar o medo para trás,
por mais que já tivesse entregado uma parte de si a ele há muito. Era o
festival mais imortal que lhe concedeu apenas um abraço há um ano, onde havia
dois corpos à procura de mais.
Todo o amor se encontra à procura de mais.
Todo o universo os esperava, naquele
luar vislumbre, a amarem-se para sempre no tamanho daquela noite. Mas só o que estava
por vir lhes ocuparia a memória e marcaria aquele simples (e tão corriqueiro)
festival. Não sabem se foram horas se foram só minutos. Sabem que a partir dali
nunca mais entenderam a vida da mesma forma. Foram ao osso do sentir. Sentiram
uma paz e uma felicidade tão pura e tão expectante, que os fez sonhar consciente
e inconscientemente, tantas vezes assim. Viram um no outro a pessoa que
queriam, sem saberem, e quem os faz estremecer, sem quererem. Quando acordaram
no dia seguinte perceberam que estavam a acordar pela primeira vez.
Todo o amor nos acorda pela primeira vez.
Lá fora, pela porta da tenda,
entrava o sol que nem tinham reparado que estava ali, tão perto, tão atento.
Não sabiam se voltariam a amar-se assim, mas sabiam que nunca mais deixariam de
se amar. A vida, teimosa, exigiu que se separassem poucas horas depois. Ela
regressou a casa, triste e feliz, do festival onde a felicidade fizera
história. Ele regressou, triste e feliz, à estrada onde descobriu que o sonho era
real. Não havia certeza nenhuma, nada era certo. Mas ambos partilhavam o maior
dos segredos, o mais perpétuo dos mistérios da vida. Só os dois sabiam o sabor
do amar.
Todo o amor guarda o segredo da vida.
Catarina Gonçalves